quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Concurso de poesia



Depoimento sobre minha experiência de leitura

Nasci numa família extremamente humilde. Meus pais foram pequenos agricultores, possuíam poucos hectares de terra e de difícil manuseio, por ser muito íngreme. Como a maioria das famílias da época, tiveram vários filhos para sustentar. Apesar da simplicidade, tive uma infância no meio rural muito feliz. Até os seis anos e oito meses nunca tive acesso a nenhum livro. Mas a minha mãe, uma verdadeira heroína, ensinou aos seus cinco filhos que poderiam conquistar um espaço promissor na sociedade, se valorizassem o estudo; que estudar era conquistar um verdadeiro tesouro. Por isso, quando eu cheguei à pequena escola, com apenas duas salas de aula, ensino “primário”, localizada no interior de Vera Cruz, eu estava me sentindo plenamente realizada. Quando a minha querida, incansável e inesquecível professora anunciou que receberíamos um livro “ A Cartilha Mimi”, lembro-me com lágrimas nos olhos, tenho presente meus olhinhos arregalados, vejo-me sentada no banco que dividia com uma colega, esperando receber meu livro. Até então, enchíamos linhas com traços, círculos, números e letras. Nos finais de semana, quando eu ia na missa, ficava observando o padre durante a celebração religiosa e imaginava o que havia tudo escrito dentro daquele livro que ele ficava lendo em determinado momento da missa, a Bíblia. Eu estava me sentindo como o padre da minha localidade, cujo nome não lembro, quando coloquei as mãos naquela cartilha. Folheava-a com todo o cuidado e imaginava as histórias da bela macaquinha Mimi. Decorei logo todas as histórias da cartilha, pois à noite eu pedia para minha mãe ler as histórias para mim. Eu sabia que o tempo dela era limitado, pois além de cansada dos afazeres da lavoura, ainda tinha que realizar as tarefas da casa. Por isso eu prestava muita atenção e decorava as histórias que ela lia. Logo após, me alfabetizei. Livros infantis não existiam na escola e até a terceira série era o único livro que eu tinha acesso e a mesma professora. Ela contava histórias fantásticas de contos de fada e bíblicas, fazendo-nos viajar em outros tempos e espaços com suas maravilhosas histórias. Nas 5ª e 6ª séries, estudei numa escola ainda na zona rural, onde havia uma pequena biblioteca com alguns livros. Eventualmente eu podia ler um daqueles livros, pois não havia o suficiente para todos os alunos.Eu me identificava com os personagens ou então, eu fantasiava ser um daqueles personagens Achava isso o máximo. Já na 7ª série fui estudar numa escola urbana, com uma biblioteca enorme, uma bibliotecária e inúmeros livros. Lembro-me que eu viajei para muitos lugares desconhecidos, vivi e amei muitos personagens, realizei muitos sonhos, tive muitas possibilidades através da leitura dos livros. Continuei lendo muito durante toda a passagem do ensino médio.Os livros clássicos eu li praticamente todos, durante o “2º grau”.Eu tive um verdadeiro fascínio pela leitura. Quando iniciei o curso de LETRAS muitas leituras foram exigidas, com rígidas cobranças por parte dos professores. Muitas vezes, leituras com as quais eu não me identificava.E sem perceber, aquelas leituras já não eram mais aquele encantamento, que me deixava presa para saber o final do livro, já não ficava mais até altas horas da noite lendo e muitas vezes, sofrendo com os personagens. Agora eu ficava acordada e lendo por obrigação, as palavras pareciam infinitas letras, sem muito significado. Fui perdendo um pouco o gosto pela leitura. O que ainda agravou o fato na época foi quando um professor solicitou a leitura do livro Noite de Érico Veríssimo para uma discussão sobre o referido livro.Como eu não havia participado muito da discussão o professor achou que eu não tivesse realizado a leitura. Lembro-me que eu lia de forma muito tediosa e superficial o que os professores solicitavam, porém, leitura prazerosa, que dirigia meu pensamento, era aquela escolhida por mim. Por isso eu tenho plena convicção que a leitura nunca deve ser imposta aos alunos, para não se tornar um cenário de intermináveis letras mas sim, deve ser escolhida pelo aluno, com a qual ele se identifica, e assim estaremos resgatando e formando leitores com gosto e vontade de ler.


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